Cosplay #9 | Entrevista com Thaís Yuki

Olá minha gente! Antes de começar a falar propriamente do assunto eu gostaria de dizer o quão animada eu estou para que vocês leiam este post! Eu estava divagando há umas duas semanas atrás e deu aquele estalo, porque não tentar entrevistar uma das maiores cosplayers brasileiras? Torci muito para dar certo e consegui a entrevista e digo para vocês, foi muito, mas muito melhor que eu esperava.


Então vamos lá, porque além da entrevista, hoje eu vou abordar um tema que tem causado certa polêmica nesse universo cosplayer, como eu escrevo para a coluna cosplay vou abordar esse tema voltando às atenções para este ponto, mas isso pode se expandir para diversos aspectos.

A desvalorização do nacional. Acredito que nós brasileiros estamos cientes do que isso significa, pois vivenciamos este problema diariamente. O que eu vou dizer agora é uma impressão minha, mas acredito que muitos de vocês percebam algumas dessas coisas acontecendo, parece que aqui no Brasil, nada do que é produzido e/ou criado é valorizado, apesar de termos uma cultura riquíssima e um povo muito criativo.

Clare Claymore - Foto: Mika Ikeda
Uma parcela muito pequena da população tem noção de que o nosso país é visto de outra maneira lá fora. Nossa matéria prima, produtos e até a nossa criatividade é valorizada. Por isso vemos muitos brasileiros ganhando destaque no exterior. Mas e aqui dentro, os criativos são valorizados? Essas pessoas que trazem inovações, que tentam superar-se e destacar-se dentro do nosso país recebem a atenção devida ou são massacrados com críticas e desdenhados?

Eu não falo somente sobre questões de grandes negócios ou investimentos, digo no nosso dia-a-dia. A criança que se destaca na escola por fazer um trabalho diferente, o adolescente que escolhe fazer uma faculdade “fora dos padrões”, pessoas que criam instituições e ideias para ajudar o país, será que o povo brasileiro valoriza essas pessoas devidamente?

Pois é, dentro de todos esses aspectos mais gerais, chego agora, especificamente, à questão do fazer cosplay no Brasil. Tenho percebido em eventos um clima de animosidade entre os cosplayers e do público do evento. Criticando a estrutura do evento, atrações e até os cosplayers que lá estão para completar o conjunto.

Lilith de Darkstalkers - Foto: Melissa Andrade
Em eventos temos todos os níveis de cosplayers, os cospobres assumidos, quem tem uma fantasia simples, cosplayers de níveis mediano, os com um nível muito bom; e aqueles que parecem ter sido tirados nas páginas dos mangás, quadrinhos ou animes. Todos esses cosplayers completam o evento, seja o nível que for todos têm direito de participar e de se divertir.

Críticas construtivas para quem tem mente aberta são sempre bem vidas, pois com elas você pode melhorar e muito seu cosplay e ainda interagir com essas pessoas que estão te dando dicas. Mas muitas vezes o que vemos são puros ataques contra quem está ali mostrando seu trabalho e aproveitando aquele momento merecido depois de tanto esforço para que o cosplay ficasse pronto.

O momento em que essas críticas mais acontecem, é durante o concurso cosplay, pois o participante está exposto em cima de um palco para, justamente, ser criticado e julgado, mas infelizmente nem sempre o público é compreensivo e apoia o cosplayer.

Vemos muitos comentários em fotos pós-evento que são quase inacreditáveis, chegam muitas vezes a serem maldosos. E o interessante é que às vezes a pessoa não é nem mesmo cosplayer, nunca subiu em um palco e nem teve a sensação de estar sendo julgado por tantas pessoas, fora os juízes do evento. Seria interessante se as pessoas que estão ali gritando e escrevendo o que querem nas plaquinhas, se colocassem no lugar dos cosplayers nem que por um só instante. É importante que se pense que aquela pessoa levou meses, para preparar aquela roupa, acessórios e apresentação para que o evento fosse abrilhantado. Pois o concurso cosplay é uma das maiores atrações de um evento.

Midna de "The Legend Of Zelda" - Foto: Bruno Antonucci
Todo mundo sabe como é complicado de conseguir certos materiais e serviços aqui no Brasil, pior ainda quando você tem que fazer uma armadura ou alguma arma estrambólica para um cosplay. Quando você vir um cosplayer todo produzido, pode ter certeza que ele passou por algumas dificuldades para chegar naquele resultado final, é por isso que tudo é válido. Só quem faz cosplay sabe o processo que é até que fique tudo pronto. Muitas irritações, expectativas e pequenas conquistas até o grande dia.


Isso tudo falando em eventos nas nossas próprias cidades, mas imagina quando a pessoa se desloca, seja para participar de um evento fora do seu estado ou porque ganhou alguma classificatória em competições maiores como o YCC e o WCS. Acredito que a dedicação seja ainda maior, porque você vai para representar o seu estado e quer mostrar um trabalho bem feito. Sempre que posso ir ao Anime Friends fico boba com a quantidade de cosplays bem feitos, são muitos! Não entendo como tem gente que ainda consegue criticar o trabalho dessas pessoas.

Encontramos cosplayers brasileiros muito melhores caracterizados que cosplayers orientais. Isso aconteceu com a umas fotos da entrevistada de hoje, mostrei para outras pessoas fotos de cosplays que ela já havia feito e disse que era brasileira, mas mesmo assim a primeira coisa dita foi: “Ela é brasileira?”.

Samus Aran de Metroid - Foto: Karim-sama
Ou seja, só porque ela faz cosplays incríveis, tem que ser de fora? Não só ela como outros cosplayers maravilhosos que temos aqui! Os campeões do WCS 2011 foram brasileiros! O trabalho deles é fantástico! Gente está na hora de procurarmos conhecer e reconhecer os trabalhos de qualidade feitos no Brasil. Já li comentários pela internet dizendo que não existem bons cosplayers no Brasil. E eu me pergunto: Como assim? Isso é falta de pesquisa, falta de interesse! As notícias estão aí, os cosplayers estão publicando fotos, trabalhos e participações constantemente.

Temos coisas ruins e falta de comprometimento nesse meio? Sim, mas nada que bons exemplos e bons trabalhos não possam incentivar a melhora! Melhorar sempre é possível.

Sesshoumaru de Inu-Yasha - Foto: Vingaard
Sem sair desse assunto sobre a valorização do cosplayer brasileiro, eu conversei com a cosplayer e cosmaker Thaís Jussim, ou como todos a conhecem Yuki LeFay! A Thaís para quem não sabe é uma das cosplayers mais conhecidas do Brasil, além de fazer cosplays de tirar o fôlego, ainda é uma simpatia de pessoa! Eu conheci o trabalho da Thaís na época que eu não tinha acesso a eventos de anime e lia muito a Neo Tokyo, li entrevistas, matérias e hoje eu trago para vocês uma conversa super interessante que aborda justamente o tema do post. Vamos conhecer algumas das opiniões da Thaís sobre como é fazer cosplay aqui no Brasil!

Ana Luiza: Como surgiu a sua relação com o cosplay?

Thaís: Muitos anos atrás, quando eu comecei a frequentar as mostras de anime que aconteciam aqui no Rio de Janeiro. Eventualmente ocorriam alguns eventos um pouco maiores, e neles havia concursos de cosplay. Na primeira vez que assisti um concurso desses, já me apaixonei pelo hobby.

Ana Luiza: O que te motiva, a cada ano, fazer cosplays mais elaborados?

Thaís: Eu gosto dos desafios técnicos que cada cosplay apresenta, principalmente os mais elaborados. Mas não quer dizer que eu só faça cosplays complicados. Às vezes um cosplay de um personagem mais simples e clean é mais difícil de replicar, do que um cheio de acessórios e detalhes.

Alucard de Castlevania - Foto: Neo Nights
Ana Luiza: Com certeza, quando mais simples, melhor tem quer ser a caracterização, para que fique fiel.

Ana Luiza: Quanto tempo em média você gasta produzindo um cosplay?

Thaís: Geralmente, entre um mês e um ano. Depende muito do cosplay.

Ana Luiza: Como é representar o Brasil lá fora? Como é a recepção do público?

Thaís: Em todos os eventos internacionais que fui sempre fui muito bem recebida. O público e os cosplayers são muito simpáticos e os organizadores muito solícitos e atenciosos.

Ana Luiza: E o pessoal vibra muito com os brasileiros? Porque o seu trabalho é muito bem feito.

Thaís: Sim, bastante! Mas varia bastante de acordo com cada lugar e com a natureza das pessoas que vivem ali. Por exemplo, latinos são sempre mais entusiasmados.

Black Cat de Spider-Man - Foto: Mario Vargas
Ana Luiza: Você ainda compete aqui no Brasil ou só em concursos internacionais?

Thaís: Eu tento ir aos eventos sempre que dá. Mas ultimamente não tenho tido muito tempo. Sem falar que a falta de estrutura da maior parte dos eventos que temos sempre me dá um desânimo. Quer dizer, saímos de casa já sabendo que vamos enfrentar longas filas, morrer de calor, trocar de roupas em banheiros cheios, e às vezes sujos, e passar o todo o dia em um ambiente extremamente lotado. Eu tento depender o mínimo possível da estrutura do local, mas há certas coisas, pequenos confortos que fazem falta.

Ana Luiza: O que você pensa dos eventos, concursos cosplay no quesito organização, logística e prática?

Thaís: Acho que já falei um pouco sobre isso na última pergunta. Talvez eu esteja ficando chata e sem paciência pra certas coisas, mas quando vemos de perto como poderia ser muito melhor. Não tem nada mais legal do que você se arrumar com calma, em um quarto de hotel, depois descer, andar 10 metros e estar dentro do evento. Mas não vamos ser cruéis e jogar toda a culpa nos organizadores. Já vi muitos se esforçarem bastante para melhorar os eventos em certos pontos. Aqui no Brasil, nem nas grandes capitais temos locais com uma estrutura adequada a esse tipo de eventos. Os poucos locais que existem, cobram preços proibitivos. Para alugar um espaço com boa estrutura, teria que haver um aumento absurdo do preço dos ingressos. Isso também não iria funcionar. Penso que seria mais vantajoso adaptar alguns aspectos para facilitar a busca por patrocínios e incentivos governamentais. A maior parte dos organizadores não conhece a Lei Rouanet¹, e nunca tentou se adequar aos paramentos pra poder se beneficiar dela.

Ana Luiza: Seria um ótimo modo de melhorar mesmo, conseguindo patrocínios e direcionando dinheiro que pode ser investido nessa área de cultura.

Ana Luiza: Apesar da dificuldade de encontrar materiais e serviços, você acredita que é possível que os cosplayers brasileiros superem esses obstáculos e se animem a sempre melhorar?

Thaís: Os cosplayers brasileiros já são bastante animados por natureza. Existem muitos materiais que não temos por aqui, mas em compensação temos vários outros que não existem lá fora, ou são muito caros. Os cosplayers brasileiros se destacam mais quando tiram vantagem das coisas que já têm a seu favor.

Ana Luiza: Você é um dos maiores exemplos de excelência cosplay no Brasil, o que você poderia dizer para os cosplayers iniciantes para incentivá-los?

Thaís: Parem de tentar negar sua própria brasilidade. Vocês nasceram aqui, e nada pode mudar isso, então é melhor deixar esse "auto preconceito" de lado antes que ele acabe sendo realmente prejudicial. O Japão não é o paraíso, e cosplayers japoneses não são semideuses perfeitos. Quando você vê que é bobagem detestar tanto a própria cultura, percebe que ela tem mais a oferecer do que jamais imaginou. E aí passamos a enxergar mais nuances, sutilezas e influências, e podemos até achar inspiração e conhecimento nos lugares mais inesperados.

Ana Luiza: Estamos num período que as pessoas não dão valor a nada nem ninguém que é daqui, não acreditam em pessoas que trabalham bem e que se destacam. Só sabem criticar, sem querer melhorar.

Orochimaru de Naruto - Foto: Liz Micheleto
Thaís: Ah, eu nem sou a mais ufanista megapatriota, mas tem gente que perde a noção.

Ana Luiza: Sim, tem gente que tem ultrapassado os limites, fazendo comparações e falando coisas absurdas.

Thaís: Olha um exemplo que ninguém nunca se ligou, o Psy e a Mônica². Eles ganharam o WCS duas vezes, são adorados pelos japoneses! Por quê? Por que eles assumiram descaradamente o "Brasil" nas matérias primas dos seus cosplays. Do que eu to falando? É só olhae os cosplays com o qual eles ganharam! Tem plumas, lantejoulas, tem brilho, tem CARNAVAL!

Isso que dizer que os cosplays deles são errados? Não! Pelo contrario, são lindos e impactantes. Não to dizendo que todo mundo tem que entupir seu cosplay de paetê, claro que não, mas esse foi o caminho que eles acharam, e ninguém pode falar que não funcionou pra eles, porque não só funciono como virou marca deles!

Cosplayers Psy e Mônica, vencedores do WCS 2011
Ana Luiza: Exato! O cosplay ficou incrível e a apresentação ficou bem feita! Mostraram um trabalho diferenciado e foram agraciados.

Thaís: Mas as pessoas não enxergam isso. Acham que só existe um certo, o japonês! Me empolguei, daqui a pouco faço uma tese sobre.

Ana Luiza: É exatamente isso! É isso que eu procuro, opinião! Quero fazer as pessoas pensarem e repensarem em conceitos. E se conseguirem perceber que tem muito que se valorizar aqui, que os cosplayers podem crescer juntos, e não como está essa guerrinha de ver quem é melhor, só teremos vantagens.

Se você não conhecia o trabalho da Thaís visite o seu deviantart para acompanhar os seus trabalhos: yukilefay.deviantart.com

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Viu só gente! Isso é a visão de uma pessoa que compete lá fora. O sonho dourado de muitos cosplayers. Nem tudo que é de fora é melhor do que temos aqui, tem muita coisa boa por esse Brasil, é só se ligar! Vamos valorizar os nossos cosplayers, torcer por eles, procurar se informar sobre sua trajetória.

Se você é cosplayer, quebre essa barreira de competitividade, faça amizade com outros cosplayers. Se tiver a chance de conversar com pessoas mais experientes que você, aproveite e aprenda com as experiências delas. Não há porque não crescermos juntos, melhorando cada vez mais o que temos de bom por aqui! Bom humor, força de vontade e trabalhos bem feitos já temos, só precisamos trabalhar juntos!
Galera é isso! Espero que este post faça todos pensarem um pouco sobre isso. Fico aqui torcendo para que vocês tenham gostado da entrevista assim como eu, pois para mim foi uma honra! Pelas fotos vocês podem ver como a Thaís é uma cosplayer variada, trabalha comics, jogos, animes! Não deixem de visitar o portfólio dela!

De mais vocês já sabem! Curtam o Toku Bahia no facebook e sigam no twitter @TokuBahia.
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Let’s Cosplay!

¹Incentivos fiscais para que se possam aplicar parte do imposto de renda em benefícios para a cultura. http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_Rouanet
² Veja o vídeo da apresentação campeã do Psy e da Mônica! http://www.cosplayers.net/pt/competicoes/world-cosplay-summit/1165-brasil-e-tricampeao-do-world-cosplay-summit.html

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