[Spoiler Warning!]: Esse artigo contém alguns detalhes do
enredo do anime e, apesar de tentar manter esses detalhes ao mínimo, eles são
importantes para expressar minha opinião em relação a obra. Considere-se
avisado.
Kiseijū: Sei no Kakuritsu, ou simplesmente Parasyte, é a
adaptação do mangá de mesmo nome, escrito por Iwaaki Hitoshi. O mangá estreou
na Morning Open Zōkan entre 1988 e 1989. 25 anos depois, a obra recebeu o
anime, produzido pelo estúdio japonês Madhouse, que estreou no Japão em 8 de
Outubro de 2014.
A trama começa quando vermes parasitas invadem a Terra.
Esses vermes podem consumir o cérebro de seus hospedeiros e tomar o lugar
deles. Entretando um desses parasitas não consegue chegar ao cérebro de Izumi
Shinichi, 17 anos, que agora tem de conviver com essa criatura que tomou o
lugar de sua mão direita – que posteriormente seria nomeada Migi.
Eu decidi começar essa coluna com um dos meus animes
favoritos que, apesar de ter começado na temporada passada, ainda tem dois ou
três meses pela frente. Eu pessoalmente aprecio enredos que colocam questões
interessantes sobre a humanidade e Parasyte questiona o papel do ser humano no
mundo e contrasta a nossa espécie com esses seres invasores que são monstruosidades
racionais e calculistas.
Eu gostaria de comparar Parasyte com Tokyo Ghoul,
especialmente por que os dois animes começaram a ser exibidos no mesmo período
e compartilham muitos aspectos quando se trata do assunto humanidade. Ambos
tratam tanto do conflito interno quanto o conflito externo de ser um ser
humano, mas, enquanto Tokyo Ghoul foca mais no primeiro, Parasyte foca mais no
segundo aspecto.
Em Tokyo Ghoul, Kaneki tem de lidar com uma transformação
violenta de seus hábitos e de sua essência enquanto inserido em um contexto que
não muda tanto – apesar de ele ser inserido em um novo círculo, os Ghouls já
fazem parte da sociedade de certa forma. Em Parasyte, Shinichi não tem tantas
dificuldades para ser “humano”, mas a inserção dessa nova forma de vida começa
a transformar tudo ao redor dele enquanto ele faz de tudo para tentar preservar
aspectos de seu cotidiano em frente a uma ameaça alienígena.
A relação entre Shinichi e Migi é muito interessante,
principalmente o fato de que com um tempo eles permutam características entre
si sem necessariamente abandonarem a individualidade. É muito engraçado ver
Migi questionar todo o tipo de moral e ideologia humana, tanto quando ele trata
tudo de maneira completamente racional quanto quando ele assume uma postura
pragmática para tentar persuadir Shinichi.
Outra coisa que eu gosto muito nesse anime é a posição de
Shinichi em relação aos parasitas e a humanidade. Ele é forçado a ficar em cima
do muro por causa de Migi, o que o leva tanto a agir de forma mais humana em
relação aos parasitas (o que, convenhamos, não funciona muito bem), quanto a
agir de forma mais fria em relação aos seres humanos em algumas situações – e
indicar isso parece ser o único propósito da existência de Murano.
Enquanto o comentário acima deixa claro que eu odeio Murano
– o que não é necessariamente algo ruim, se esse for o objetivo da personagem,
ser odiada – eu quero comentar sobre meu personagem favorito, Tamura
Reiko/Tamiya Ryoko. Não só a curiosidade em relação a humanidade, mas a
confusão dela com relação a própria identidade por, de certa forma, ser um dos
parasitas que convive de forma mais próxima aos humanos – principalmente por
causa do seu bebê, é muito intrigante. Eu passei um tempo considerável pensando
se ela estava apenas imitando os humanos como um recurso de sobrevivência ou
ela realmente estava incorporando aspectos humanos. Fora isso, as cenas dela
com Shinichi são as minhas favoritas por causa da insistência dela em provocar
Shinichi para explorar o lado sentimental dele e, acredito, entender a
humanidade melhor através dele.
Essa confusão surgiu pelo fato da obra inicialmente deixar
bem claro que os Parasitas são criaturas frias, sanguinárias e sem moral e
gradualmente desconstruir essa mesma imagem através dos personagens principais
do lado dos parasitas. De certa forma cada um desses antagonistas mais
proeminentes representa uma forma de invasão alienígena com a qual nos estamos
familiarizados por causa de outras obras de ficção científica.
Tamura Reiko/Tamiya Ryoko representa um alienígena que quer
estudar e entender a humanidade. Takeshi Hirokawa é o alienígena que quer
governar a humanidade e se considerar uma espécie de messias do espaço. Gotou
representa os parasitas como uma forma de vida superior, buscando a perfeição e
alimentando uma arrogância sem limites. Esses personagens são muito importantes
pois todos eles desconstroem a ideia inicial da obra de que os parasitas são
criaturas selvagens e sanguinárias, o que contribui muito para a consistência
da mensagem que a obra tenta passar.
Por último eu gostaria de comentar sobre as lutas que
acontecem. Eu particularmente gosto muito delas, pois, apesar de elas não serem
necessariamente movimentadas, elas são realmente tensas, pois o anime faz um
bom trabalho em convencer o telespectador de que qualquer golpe é
potencialmente fatal e que muitas vezes a decisão se dá por estratégia e
análise do que por pura força física. Também é interessante o fato dos combates
girarem em torno da ideia de que a parte vulnerável dos combatentes é a parte humana
– Isso contribui para uma das maiores reviravoltas do anime, onde, no início,
Shinichi é uma desvantagem com a qual Migi tem de lidar e, posteriormente, essa
situação se inverte.
Apesar de eu inicialmente ter me interessado pelo anime pela
pura bizarrice que são os momentos iniciais, existe muito a se aprender e
refletir com essa obra e eu a recomendo. Mas é prudente deixar um aviso para os
mais sensíveis, já que o anime, inevitavelmente, é um banho de sangue.
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