Kamala Khan é uma paquistanesa de família tradicional, nascida e criada em Jersey City, fã dos Vingadores e que sempre sentiu-se deslocada por se interessar por coisas nerds, ter tradições familiares peculiares e não partilhar de um padrão de beleza universal.
Cansada de tantas regras e de seus pais não conseguirem entender seus interesses por super-heróis, Kamala sai escondida para uma festa - que estava proibida de ir - e acaba passando por uma experiência transformadora.
Seu maior ídolo, Miss Marvel, agora Capitã Marvel, aparece como que em uma visão acompanhada do Homem de Ferro e Capitão América e diz que ela sofrerá um "reboot" que outras pessoas só poderiam sonhar.
Foto - Mega Hero |
Quando Kamala percebe, ela se transforma na própria Ms. Marvel, com direito até ao uniforme clássico, sua aparência, poderes e muita confusão mental, sem entender o que realmente aconteceu e como controlar suas novas habilidades - que era o que ela pensava que queria. Agora a garota, além de lidar com os desafios de uma família tradicional e regras que recaem sobre a filha mulher, terá que entender e tentar usar seus poderes para um bem maior.
O interessante desta história é que somos apresentados a um mundo que geralmente não temos contato. Uma cultura não muito retratada em quadrinhos e que mostra com bastante propriedade a rotina e vida de uma família paquistanesa vivendo nos Estados Unidos, tentando criar uma filha dentro de uma cultura diferente e cheia de atrativos, que os pais de Kamala consideram ruins para o crescimento de sua filha.
Vemos as idas de Kamala à Mesquita, sua relação com a religião e seus pais, que envolvem o Xeique responsável pela Mesquita nos problemas familiares e seu início como uma heroína. Após algumas enrascadas a garota decide ajudar um amigo a livrar seu irmão de uma situação perigosa e, com isso, vemos a criação do novo uniforme da Ms. Marvel.
Kamala adquire uma gama de poderes como modificar seu tamanho, podendo crescer o corpo inteiro ou apenas partes, encolher, superforça, transformar sua aparência, cura, elasticidade. No decorrer da história a nova heroína treina para dominar suas habilidades e salvar o garoto com problemas, enquanto finaliza seu uniforme, que é bem mais conservador que o original da Ms. Marvel, condizente com suas crenças.
Foto - Mega Hero |
O que eu gosto da personagem é que ela não é uma adolescente rebelde tentando se "libertar" de uma família e religião opressora. Kamala é uma adolescente com conflitos da idade como qualquer outro jovem, que tenta conciliar o seu amadurecimento com as tradições e expectativas familiares, ao mesmo tempo que tenta aprender e dominar seus super poderes.
É um encadernado que traz boas histórias para ler e conhecer o universo de Kamala, que realmente é "nada normal", e consegue relacionar e aproximar adolescentes que, apesar de não serem muçulmanos, identificam-se com os problemas passados pela personagem com sua família durante essa fase da vida.
O traço é leve, a revista é bem colorida e tem um movimento visual divertido. Traz elementos da cultura paquistanesa bem retratados, assim como vocabulário com expressões e notas de rodapé com explicações. O encadernado é de capa dura, com ilustrações de Adrian Alphona, cores de Ian Herring e roteiro de G. Willow Wilson.
O quadrinho quebra inúmeros paradigmas sobre super-heroínas e padrões de vida e beleza, apresentando dilemas e aventuras dentro de uma cultura tão singular. É uma leitura que recomendo não só por ser sobre uma super-heroína, mas por sair do mainstream e apostar no diferente, coisa que a Marvel fez muito bem com a criação da nova Ms. Marvel.
1 comentários
Excelente resenha! Também acho que o trunfo da Kamala é justamente fugir dos estereótipos e dar voz para as "adolescentes diferentes", muita gente pode se identificar! E trazer uma cultura tão diferente da nossa também é legal pra quebrar alguns preconceitos. Vida longa à Kamala!!!
ResponderExcluir