Quando eu era mais novo, meu pai ainda não tinha condições para poder comprar para mim um computador de ponta para jogar todos os games do momento. Aliás, só fui ter um bom computador esse ano de 2016 com o dinheiro do meu bolso. Mas não ter um computador potente nunca foi um problema pra mim, me contentava com o meu e quando ia jogar, tinha as casas dos amigos e é claro as Lan Houses.
Nos anos 2000 (pelo menos em Salvador, mas acredito que no Brasil inteiro foi semelhante), houve um “boom” de Lan Houses. Todo bairro tinha pelo menos uma ou duas. Como era difícil ter uma internet muito veloz para jogar ou ficar horas no Orkut, as Lan Houses se tornaram o point da galera. Lembro com muita clareza de esperar chegar a Sexta-Feira para ir na Lan House em frente da minha casa para jogar Counter Strike e outros games.
Primeira Lan House da rede Monkey em 2003, Mato Grosso do Sul - Foto: R7 |
Existiam também as Lan Houses mais “chiques”, quem aqui de Salvador (e do Brasil) não lembra da Monkey Lan House? Na minha cidade ficava no extinto Aeroclube, um grande shopping aberto com várias coisas legais para fazer no final de semana. Apesar de custar R$5,00 a hora (se não me falhe a memória), a Monkey era super bem organizada com seus computadores pretos e rápidos, ar-condicionado e salgadinhos e refrigerante para quem ia passar horas no lugar, valia a pena economizar o dinheiro do lanche da escola para ir depois na Monkey. A sorte é que quando tinha um aniversário de algum amigo meu, ficávamos horas jogando com os pacotes especiais oferecidos pela empresa. Que saudades meu amigo. Infelizmente a rede Monkey Lan House encerrou suas atividades em 2010, fechando um ciclo com mais de 60 unidades Brasil a fora.
Vamos falar dos jogos? Essa parte era a parte mais importante. Quando comecei a frequentar as Lan Houses a febre do momento era Counter Strike, o famoso “CS”. Naquele momento seu amigo virava seu adversário e times eram formados para saber quem era o melhor. Adorava a fase da piscina, famosa “Fy Pool Day” e a CS Rio que tocava a música proibida do Barzinho e ainda tinha um easter egg de Half Life. Você lembra?
Quando não estava jogando um FPS (jogo de tiro), me aventurava no universo dos jogos de RPG (que até hoje são meus favoritos), não troco por nenhum gênero de game, quem chega mais perto são os beat-ups (briga de rua). Passava horas jogando Tibia, uma paixão que começou graças a um amigo meu que veio morar em meu condomínio e que se estendeu por vários anos. Se você jogou, com certeza passou horas tentando sair de Rookgard (que hoje foi substituída por Dawnport) e quando chegou em Main quase foi morto por um jogador de level mais alto.
Ragnarok, um dos jogos mais importantes do gênero MMORPG - Foto: Reprodução internet |
Existiam outras opções de RPG é claro. Entre eles estava o popular daquela época, o queridinho da Level Up Games, Ragnarok. Conheci esse jogo graças a um outro vizinho meu, que trabalhava em alguma Lan House ou divisão da empresa (obrigado Marcos!), ele deu pra mim e outro amigo meu um CD de instalação, um manual do jogo que vinha com um mapa e um código para jogar já que era pago. Bem, meu kit de aventureiro estava completo, mas quando fui instalar na minha máquina, o jogo ficou parecendo uma tartaruga e tive que ir jogar no vizinho e na Lan House que ficava do outro lado da minha rua. Minha vida foi difícil.
Junto com Ragnarok, outros jogos também marcaram época na era das Lan Houses. Tinha Priston Tale da Wicked Interactive, Mu Online da Webzen, Cabal Online (nunca tive oportunidade de jogar), GunBound que me lembrava muito Worms Armageddon, Grand Chase também da Level Up Games e para os mais descolados, Line Age II. Claro que existiam outros jogos, mas esses são bem marcantes na minha memória e não vou esquecer tão fácil deles.
A época das Lan Houses também me proporcionou jogar ótimos games “off-line”, já que meu PC não conseguia rodar todos. Apesar de jogar Age of Mythology na minha máquina na época, rodar esse jogo em um computador da Monkey, não tinha comparação. Só a sensação de colocar os gráficos no modo “100%” era de arrepiar. Também tive a oportunidade de jogar The Sims 2, GTA Vice City San Andreas e sair que nem um louco nas ruas e customizar meu carro em Need For Speed Underground 2 ao som de Snoop Dogg. Sinto uma falta imensa dessa época, mas hoje tenho a oportunidade de rever cada um desses jogos e matar a saudade sempre que tiver vontade.
O público alvo dos cybers (como eram chamados os frequentadores de Lan House), sofreu grande mudança com o desenrolar dos anos 2000. Os computadores potentes acabaram perdendo espaço para usuários que iam para acessar Orkut e MSN e mais perto de 2010 mais ou menos, os jogadores já tinha computadores consideráveis e videogames em suas casas. Isso causou grande impacto nas Lan Houses que tinham grande enfoque em games. A que ficava vizinha da minha casa, “agonizou” muito tempo e teve até uma época que abriu espaço para xerox e encadernamento como um forma para driblar a falta de público, mas nem isso conseguiu salvar a loja.
Hoje assim como as locadoras, as Lan Houses foram quase que completamente extintas. Muitas foram transformadas em outros negócios como cyber-cafés ou atuam em bairros menores e no interior, onde ainda a internet é precária. Mas arrisco dizer que é um último suspiro para esse ramo de negócio. No final, sobrou para mim as memórias de uma época boa que não irei esquecer jamais.
1 comentários
Jogava em LANs, em locadoras de games e fliperamas!! O elgal de tudo isso!
ResponderExcluirduelos legais... camaradagem etc