Anthony Burgess é famoso pelo seu trabalho em romances distópicos, principalmente através da obra Laranja Mecânica. Apesar do tamanho sucesso dela, Burgess tem, em seu arsenal, uma outra obra escrita em 1962 que mergulha fundo em uma distopia na qual vemos diversos modelos de sociedade e política se desenvolvendo em questão de anos.
Com sua nova edição em capa dura pelo clube de assinaturas Escotinha_ns, a Novo Século traz o romance distópico Sementes Malditas que segue como pretexto um triângulo amoroso entre Tristram Foxe, um historiador entusiasta pelas mudanças sociais, sua mulher e dona de casa Beatrice-Joanna Foxe e Derek Foxe, o irmão de Tristam e um oficial do governo que finge ser homossexual para conseguir melhores cargos.
Em uma Londres de um futuro onde a superpopulação levou a sociedade a extremos, há um estigma sobre a heterossexualidade, sendo por outro lado, a homossexualidade encorajada por questões de controle populacional. Todos os ocupantes de altos cargos do governo e de funções administrativas e da polícia são ocupados pelos 'homos', assim como a obra dita, ou por heterossexuais inférteis ou solteiros. Há todo um movimento contra a fertilidade em um momento inicial, inclusive existindo um Ministério da Infertilidade onde há um encorajamento a mortes prematuras ''acidentais'' de crianças.
Há, sem dúvidas, um direcionamento homofóbico de Burgess sobre como a homossexualidade é tratada. Não sendo vista como um elemento inerente, ela acaba sendo uma ferramenta social utilizada pelas pessoas dessa sociedade para favorecimento próprio. Toda a forma de agir, trejeitos exagerados e a prepotência desse grupo é um retrato bastante negativo e, em praticamente toda a obra, é usado de forma antagônica aos protagonistas.
Contudo, não se pode desprezar o material de Burgess como homofobia ou até mesmo como Xenofobia, uma vez que essa Londres é retratada como um polo multicultural composto por indivíduos de diferentes nacionalidades, o que também é tratado de forma depreciativa em diversos momentos. O foco do autor é, na verdade, passar receios da sua época, alguns, inclusive, que ainda são válidos hoje diante do forte movimento de imigração na Europa. Além disso, ele busca mostrar mudanças sociais extremas, como o faz por toda a narrativa.
Mais do que acompanhar o triângulo amoroso de uma esposa traindo o marido com o próprio irmão, Sementes Malditas se enriquece ao tratar das exageradas políticas adotadas nessa distopia e a luta daqueles que tem que se adaptar a elas para sobreviver.
Em um primeiro momento, o Estado é extremamente controlador e as políticas de controle populacional visam impedir que a população cresça ainda mais. No momento que se percebe que esse posicionamento não está sendo eficiente, os direitos individuais se vão e quaisquer meios, válidos ou não, passam a ser utilizados pelo Estado de maneira opressora. O resultado disso é um contramovimento da sociedade, levando à queda do Estado e eventualmente ao canibalismo pela falta de alimentos. Disso, um novo movimento leva ao nascimento de um novo governo que usa a guerra como meio para reduzir a população.
O ponto que Burgess tenta passar é que, em meio há todo esse caos social, os protagonistas (que representam o indivíduo comum), pouco ou nada tem o que opinar ou mudar diante das políticas adotadas e que mesmo sobre tamanhas mudanças, são as liberdades morais de cada um que os mantém como indivíduos diante do Estado. O que a obra faz, desse modo, é apenas se utilizar de uma lente de aumento por meio de uma distopia para se tratar de problemas reais.
Titulo: Sementes Malditas
Autor: Anthony Burgess
Editora: Grupo Novo Século (por meio do clube de assinaturas ESCOTILHA NS)
Tradução: Fábio Fernandes
Ilustrações: Paula Cruz
Páginas: 253
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