Em Sem Tempo para Morrer, a conclusão mais do que definitiva da saga de Daniel Craig no papel, vemos todo esse peso da franquia extremamente bem captado em um enredo que encerra um arco de cinco filmes profundamente conectados. Talvez seja esse, inclusive, um dos principais elementos que diferenciem esse arco específico das obras que o precederam.
Desde Cassino Royale, o impacto causado pelo grande interesse amoroso de Bond, Vesper, e a consequente tragédia que levou à sua morte e a um processo de culpa pelo agente tem sido temas recorrentes e, como um verdadeiro fechamento, Sem Tempo para Morrer também trouxe uma conclusão para essa linha da história quando Bond resolve deixar sua culpa no passado para seguir em frente com Madeleine.
Obviamente seus planos não seguem como o esperado com o retorno da Spectre, o já bem conhecido sindicato do crime por toda a franquia, mas que esteve no foco da narrativa especialmente no último filme, 007 Contra Spectre. A presença da Spectre nesse fechamento foi outro fator essencial e, por mais que o enredo tenha contado com um novo vilão, deixar esse elemento de fora não teria soado bem, da mesma forma que a volta de importantes nomes como Felix Leiter e Blofeld.
Por falar no antagonista, Lyutsifer Safin, interpretado por Rami Malek, acabou sendo um dos poucos pontos negativos da história pela sua falta de individualidade. Malek está excelente no papel, mas Safin é apenas mais um criminoso atrás de vingança que quer usar uma arma biológica que pode acabar com toda a vida na terra. Sua ligação com Madeleine e com o Mr. White é um bom toque, mas seus trejeitos e a maneira com que age ficaram muito similares ao antagonista de Skyfall, Raoul Silva, que foi interpretado por Javier Bardem e teve bem mais presença.
Ainda assim, a presença do vilão funcionou bem com a história que, assim como os outros filmes de Craig, é carregada de cenas de ação e grandes takes que estão presentes desde os primeiros 10 minutos. Confesso que em tempos de pandemia foi difícil (de uma boa maneira) ver um filme de 007 no cinema com uma máscara e tanta ação presente durante todo o longa.
Sem Tempo para Morrer também não perde o charme que sempre fez parte da franquia e continuou presente no arco de Craig, mas com certeza haverá algumas pessoas que não conseguirão aproveitá-lo.
Há uma discussão necessária a ser feita pelo preconceito enraizado que existe por todo o nosso país (spoilers até o final do parágrafo), mas logo no início da trama, Bond é dado como morto e há um time skip de 5 anos. Com o seu retorno, Bond descobre que um novo agente foi designado como 007 e descobrimos que esse novo 007 é uma mulher preta. Definitivamente haverá pessoas que criarão problemas em cima desse fato pelo papel ter sempre sido interpretado por homens brancos, mas é importante lembrar que 007 é apenas uma designação e qualquer pessoa de qualquer etnia ou sexo pode obter esse titulo.
A introdução da nova agente é feita de maneira bem natural no filme, além de que a interação e rivalidade entre Nomi (interpretada por Lashana Lynch) e Bond são alguns dos melhores momentos de Sem Tempo para Morrer. A atriz não só está perfeita no papel, como também traz uma leveza a um filme bastante sério.
O longa tem várias temáticas mais pessoais, inclusive o tema da família, que funcionam bem com essa ideia de encerramento que é carregada até o último minuto da trama. Somos expostos novamente a alguns dos raros momentos de fragilidade de James Bond, que de maneira nenhuma ficam no caminho de toda a destruição e mortes causadas pelo agente.
Também não poderia deixar de fora o tema No Time To Die cantado por Billie Eilish, que pessoalmente fica em segundo nesse arco de filmes, apenas atrás de Skyfall, por Adele, se juntando a um rol de boas (e confusas) aberturas de 007. Por falar em preferências, Sem Tempo para Morrer entra na minha terceira posição dos filmes de Craig, atrás de Skyfall e Cassino Royale.
Com o final desse arco, o retorno de Daniel Craig ao papel fica bastante improvável, mas é estimulante pensar em o que está por vir na franquia pela frente.
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