Venom - Tempo de Carnificina é um caos narrativo perdido em referências

Um ponto que me chamou atenção positivamente no Venom de 2018 foi a liberdade que ficou evidente no roteiro e que resultou em um filme divertido e com uma história e personagens que conversaram bem.

 Entrando em Venom – Tempo de Carnificina, eu esperava algo na mesma linha, mas com alguma evolução em relação ao seu predecessor dada a introdução do Carnificina na trama, especialmente pela sua importância ao ser colocado no título do longa. 

Enquanto é preciso admitir que Cletus Kasady, interpretado por Woody Harrelson, tem bastante espaço e ganha sua história de origem e um arco próprio ao entrar em contato com um novo simbionte, também é preciso pontuar que o resto do filme possui vários problemas e incoerências que ficaram evidentes. 


O primeiro ponto é que Eddie Brock, que conta com Tom Hardy de volta no papel, está basicamente no mesmo lugar no qual terminou no filme anterior. Apesar do protagonista obter certo sucesso ao ser escolhido por Kasady para ser o único repórter a ter contato com o famoso assassino em série e conseguir informações únicas, Brock ainda é um fracassado. 

Não vemos mudanças substanciais em sua vida e sua relação com o simbionte Venom não parece ter progredido muito. Os dois convivem diariamente em um relacionamento bem característico de um casal e, enquanto que por um lado Venom está insatisfeito por apenas poder comer galinhas e chocolates, sem poder revelar suas habilidades ao mundo, por outro, Eddie está infeliz por ter que dividir sua vida com esse verdadeiro ‘’grude’’ que o afeta de todas as maneiras possíveis. 

O relacionamento dos dois é divertido e um é um dos pontos centrais do enredo junto à história de Kasady, mas também é apenas isso. Nenhum desdobramento ou profundidade foram adicionados a Brock, Venom funciona como o alívio cômico do filme, mas Eddie apenas está lá. A falta de carisma e alguma ligação mais séria com o enredo deixaram o protagonista menos interessante que o Venom e o único fato relevante sobre os dois parece ser os seus problemas matrimoniais (que acabam se resolvendo no final). 


Mas um dos principais problemas de Venom - Tempo de Carnificina parece ser o seu roteiro. A questão não chega a ser a falta de seriedade que a história segue, até mesmo porque ela também esteve presente no primeiro longa, mas há uma desordem que vai além desse caos proposital da trama. 

De maneira direta, o filme é ‘’bagunçado’’ e não consegue se decidir entre Eddie ou Kasady como o verdadeiro protagonista. 

Continuei esperando pelo momento onde Eddie entraria de verdade na trama, mas os créditos chegaram e Eddie poderia ter sido facilmente substituído por um hospedeiro mais interessante para o Venom. 

Já o Carnificina, que visualmente foi extremamente bem executado, também deixou a desejar com a sua falta de personalidade. Um dos elementos que diferenciam o simbionte do Venom e até dos outros simbiontes nos quadrinhos é o fato dele assumir várias das características de Kasady e ser bem mais excêntrico do que aqueles à sua volta. Ao invés disso, ele é apenas mais um monstro no enredo e suas motivações são apenas matar o Venom e, mais importante do que isso, comer cérebros. Bem zumbi, não? 


Ainda assim, não há o que reclamar das lutas e da maneira com que os simbiontes são tratados no filme. O uso do fogo e do som como elementos de perigo para eles foram bem utilizados e as batalhas ficaram bem interpretadas. A menção de que um simbionte vermelho aparenta ser algo mais perigoso do que o Venom foi um bom toque, mas faltaram explicações sobre o porquê, assim como faltaram mais ligações com a origem dos simbiontes, apesar de que a cena pós-créditos trouxe um pouco disso. 

Frances Barrison ou Shriek, que é interpretada por Naomie Harris, é o interesse amoroso de Cletus Kasady e por mais que a relação dos dois tenha sido o outro ponto central da trama, ela poderia ter sido mais bem utilizada. Foi satisfatório ver uma mutante sendo abertamente apresentada em um filme da Sony, por mais que apenas tenham mencionado suas mutações e não a chamado diretamente de mutante. O fato de seus poderes serem uma das fraquezas dos simbiontes é bastante poético, mas eu esperava maiores conflitos entre ela e o Venom. 

Venom - Tempo de Carnificina, em diversos momentos, pareceu desconexo e o humor não funcionou tão bem em comparação com o longa anterior, mas pelo menos pudemos ver o Carnificina em tela e até tivemos referências ao Toxina. Um dos grandes destaques acabou sendo a cena pós-créditos (spoilers leves até o final do parágrafo) que trouxe uma ligação direta com o MCU, existindo uma chance real de vermos Venom em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa.

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