A Caçada em Veneza, como deveria ter sido chamado o novo filme de Kenneth Branagh no Brasil, é a mais nova produção do diretor e protagonista da série de romances policiais de Agatha Christie para os cinemas. Apontado como uma adaptação do romance A Noite das Bruxas, utiliza-se de poucos elementos do original para construir sua história. Por este motivo, não serão feitos comparativos e nem relações com a obra original, e sim apenas a analise da obra cinematográfica.
Mais uma vez Branagh desloca Hercule Poirot da sua familiar Londres e somos levados para Veneza na Itália, onde o detetive vive sua pacata vida de aposentado com todos seus maneirismos e nova rotina, até ser interrompido por Ariadne Oliver, amiga de longa data e romancista de livros de mistério. Adepta de ideias mais místicas que Poirot, Srta. Oliver faz um convite provocativo para seu cético amigo, conhecer uma médium e participar de uma sessão espírita em um casarão mal assombrado. Poirot é surpreendido por uma noite de terror ao presenciar o assassinato após a macabra sessão espírita e agora se vê obrigado a se trancafiar com todos os suspeitos enquanto lida com suas dúvidas internas sobre o mundo real e o sobrenatural.
É visível que a escolha da linguagem para o terceiro filme do diretor segue o gênero do terror, o seu visual, filmagem, trilha sonora, técnicas de câmera e o todo o suspense levam o espectador e ficar mergulhado em um suspense. A mistura de elementos ficcionais e história funcionam na trama, já que existe um casarão em Veneza que realmente e tido como assombrado. Poirot passa por todos os clichês de um filme de espíritos e no fim o espectador se pergunta se realmente há algo do além assim como o protagonista.
Branagh insiste em continuar a narrativa que começou em seu primeiro filme, O Assassinato no Expresso do Oriente: onde Hercule Poirot passa, a morte o segue, pautando todo o conflito do personagem somente nessa frase. Não que esse conflito não exista nos livros, mas o personagem não se resume a isto. Nessa trilogia acompanhamos um Poirot cansado e crente nessa maldição da morte, sua vaidade se mantem apenas na sua lógica e seu bigode. Confesso ser um pouco triste ver o personagem nessa espécie de decadência e sem sua normal autoestima dos livros, mas também entendo a releitura das adaptações.
O filme é uma tentativa, acredito bem sucedida, de atingir novos públicos fora do nicho do romance policial clássico se apropriando do popular gênero do terror, principalmente de filme de espíritos para tal. Espero que o sacrifício da história original, as características que formam o protagonista e o distanciamento geográfico da Inglaterra, seja de alguma forma proveitoso para a franquia e produções conquistando novos apaixonados pelo mistério fictício que encanta em Agatha Christie.
De qualquer forma, fiel ou não, sempre me alegra ver a Rainha do Crime ganhando destaque das grandes telas e atingindo um público maior. Essa sempre será a maior conquista do vaidoso Kenneth Branagh.
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